quarta-feira, 16 de setembro de 2009

andancas (sem cedilha por causa deste teclado...)

Eu (e a torcida do Corinthians) costumava andar por Bauru. Muito. So nao ia a pe para a Unesp, mas andava muito ate chegar ao ponto de onibus. E caminhar nao era so uma questao de deslocamento fisico. Era uma viagem mental, astral, cosmica, sei la. Era, pra ser bem sucinto, um jeito de organizar as ideias.
Foi assim que conheci demais a cidade - ou, ao menos, a regiao central, os Altos da Cidade, o Estoril. Rua por rua. Outro dia, o Daniel, compadre, amigo eterno da Republica do Bozo (a nossa republica) me ligou, da mesa de um boteco em Ribeirao Preto, perguntando: "como era mesmo o nome daquelas ruas pra cima da Rodrigues Alves?". Pra que diabos o Daniel queria saber a resposta em plena mesa de bar em Ribeirao? "Qual rua? Bandeirantes? Cussy Jr.? Sete de Setembro?", perguntei, respondendo. Ainda hoje, tenho esse mapa de Bauru na cabeca.
Mas houve o dia em que Bauru se transformou. A formatura tinha acabado de passar. O pessoal da turma estava indo embora - de verdade, pra sempre. Nao eram apenas (apenas?) aqueles 3 meses de ferias. Era despedida, mesmo. So um ou outro tinha ficado. E, entre eles, eu. O Daniel. E o Daniel tinha acabado de receber um convite profissional pra voltar a Ribeirao. O Alessandro ja tinha ido, ou ja estava indo tambem, nao me lembro direito. Pra variar, sai pra caminhar, pra tentar entender aquela vida que comecava sem faculdade, sem a turma. A um so tempo, parto e amputacao. E, naquela caminhada, Bauru nao era mais a mesma. Passei em frente ao antigo Cafe Mania. Vilao. Moco do Brasil. Cachacaria do Jao. Tequila. E nao sei mais onde. Tudo fechado ou diferente. Gente diferente. Eu, diferente.
Compreendi que aquela Bauru tinha ficado pra tras. Eu ainda viveria 4 anos ali, trabalhando, convivendo com alguns remanescentes (Rodrigo, principalmente), com o meu irmao (da entao nova geracao da Unesp) e com outras turmas que se formariam com o tempo (e com amigos tambem muito queridos).
E, na hora de me despedir, de ser eu a voltar pra casa (a casa de antes da faculdade), tive um no de marinheiro na garganta. Em cada pedaco da cidade, em cada rua cujo nome eu sabia de cor, ficava alguma historia, alguma festa de republica, alguma bebedeira, algum fato inenarravel... Meses depois, a mais de 400 quilometros dali, conversando com aquela que viria a ser minha namorada, depois minha esposa, disse que havia deixado meu coracao em Bauru... Ah, ela nao entendeu. Quase estraguei aquela paquera. Nao adiantou eu explicar: "nao, nao estou falando de nenhuma mulher, de nenhuma paixao. Estou falando da cidade mesmo, dos lugares, das historias, e dos amigos". Nao colou. Mas era verdade.

7 comentários:

  1. Ai, Fabião, quase que eu choro aqui... eu sinto a mesma coisa...

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  2. Lindo texto, Fabio. Acho que vc exprimiu como ninguém o vazio absurdo que se abateu sobre nós no dia 01/02/98. Eu também deixei um pedaço de mim lá. Um pouco nas ruas de Bauru, por onde também andei muito, mas certamente naqueles 4 anos.

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  3. Fabião,

    Que belo post! Cheio de memórias boas! :-)

    Grande abç!

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  4. Muito bom, Fábio. Foi como voltar no tempo... O nível dos textos está alto... esse blog promete! logo arrumamos uns horários com o Manoel para fazer a análise dos textos. risos./
    abs
    anderson

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  5. sensacional o texto fabião. faz a vida da gente parecer novela.
    uma vez o daniel me ligou também - eu em sp, ele em rib. preto, provavelmente na mesma mesa de bar, perguntando sobre coisas bacanas de um passado que já não há.
    que bom encontrarmo-nos todos por aqui.

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  6. Amigos, postem seus contatos ou me mandem por e-mail que a qualquer momento podem ter a singular experiência de receberem uma ligação diretamente da mesa do bar. navarro@outras.com.br

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  7. Fábio, você resumiu tudo! Maravilhoso texto!
    Agora moro numa Bauru diferente, mas com certeza aquela ficará para sempre, beijão! Jô

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