quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Arrependimento

Em maio deste ano mudei de apê e, na hora de encaixotar a mudança, achei minha agenda de 1994. Fiquei olhando para aquele objeto meio descascado e bastante sujo durante alguns segundos, até que a minha recente lógica da utilidade falou mais alto: serve para alguma coisa? Não? Então é lixo. E lá se foi a agenda para uma caixa de recicláveis.

Alguns minutos depois, incomodada, peguei a agenda da caixa. Abri e caiu em uma página que tinha um papel grampeado. Era um desenho feito à caneta, uma caricatura da Terezinha, feita pelo Ricardo. Dei risada e continuei revirando a agenda. Cheia de propagandas ilustradas de festas: festa do predinho da curva, Tico Mia, aquela Maratona Etílica com mapa e tudo, e aquela festa de república perto do Pappa Tutti (qual era mesmo o nome?).

Achei também inúmeras daquelas listas que costumávamos passar pela sala de aula: uma sobre o Ari, outro sobre o Le Bon, e ainda uma que rodou a turma enquanto estávamos no auditório do Estadão na Semana Estado de Jornalismo, recheada de trocadilhos sobre o Alfredo Belmont e que talvez a maioria não tenha visto (em uma foto que guardo desse dia, quase todo mundo está dormindo naquelas cadeiras confortáveis...).

Enternecida por essas lembranças, separei a agenda. "Lembranças queridas não devem ser jogadas no lixo". O problema das coisas velhas, porém, é o pó. Em alguns minutos, meu nariz e meus olhos estavam em brasa por causa da faxina da mudança. Olhei desconfiada para a agenda novamente. Cheia de pó. Eu sou alérgica, meu filho é muito mais alérgico ainda e eu estava para ter um bebê. Não estava levando nada empoeirado para a casa nova. E lá se foi, dessa vez definitivamente, a agenda. Minhas queridas memórias abandonadas e assassinadas por este meu novo eu, prático, lógico e sensato...

Ironias do destino. Durante todos esses anos, eu me acostumei a rever a agenda com uma certa frequência. Mas justamente naquele dia, não consegui imaginar sequer uma minúscula utilidade para ela. E então, alguns meses depois, surge esse blog. Animada, pensei em escanear todo aquele material e zás, e zás, postar no blog, e zás, e zás (até que o Kiko da minha consciência ordenou que eu me calasse porque a agenda estava no lixo...).

Sorry. De tudo que havia naquela agenda, tem uma coisa que nunca vou esquecer. Uma das listas era sobre os medos que tínhamos. E o Ricardo disse que quando era criança tinha medo do barulho da descarga da privada porque achava que era o Minotauro!!!

Sempre achei isso engraçadíssimo. Mas agora, minha bebê de dois meses dá pulos no berço ou no carrinho, totalmente em pânico, quando alguém aciona a descarga do vaso sanitário. Ela ainda nem sabe o que é o Minotauro... e agora toda vez que isso acontece eu me lembro do Ricardo!

4 comentários:

  1. Thelma, a festa perto do Pappa Tutti era a VAMPU FERVU!!
    E eu nao teria jogado a agenda fora!! Alias, eu tenho as minhas ainda - e tenho tambem um saquinho cheio de bilhetes que recebi durante 4 anos de aula...
    Putz, agora essa do minotauro foi impagavel, hein?

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  2. Entendo, Thelma, a gente tenta ser prático, as casas são pequenas. Eu me arrependo muito de ter jogado fora as minhas revistas. A minha coleção de Capricho, a coleçao de Nova e Claudia da década de 90... além do valor sentimental, hoje eu sou professora de jornalismo de revista. Mas a agenda de 1994 essa não vendo, não empresto, não dou. A minha está aqui, no meu escritório, ao alcance da vista. Vou ver se tem material interessante nela pra postar.

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  3. Bom, digamos que, além do lado prático, eu tive um outro motivo para dar fim nela: o meu querido Paulão andava muito curioso para dar uma fuçada na minha agendinha... aos 17 anos, eu anotava absolutamente TUDO que acontecia naquela agenda. Gente, 17 anos, primeiro ano de faculdade, primeiro ano fora de casa, liberdade, muita pinga e o resultado de tudo isso anotado tintim por tintim. Acham que ia prestar? :-)

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  4. Infelizmente minhas agendas dos anos de faculdade se perderam no meio de tantas mudanças de casa que se seguiram à nossa formatura... Mas até hoje me lembro da primeira, de 94, uma daquelas "Agendas da Tribo" que eram moda na época. Recheada de segredos e coisas engraçadas. Saudades!

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