Em maio deste ano mudei de apê e, na hora de encaixotar a mudança, achei minha agenda de 1994. Fiquei olhando para aquele objeto meio descascado e bastante sujo durante alguns segundos, até que a minha recente lógica da utilidade falou mais alto: serve para alguma coisa? Não? Então é lixo. E lá se foi a agenda para uma caixa de recicláveis.
Alguns minutos depois, incomodada, peguei a agenda da caixa. Abri e caiu em uma página que tinha um papel grampeado. Era um desenho feito à caneta, uma caricatura da Terezinha, feita pelo Ricardo. Dei risada e continuei revirando a agenda. Cheia de propagandas ilustradas de festas: festa do predinho da curva, Tico Mia, aquela Maratona Etílica com mapa e tudo, e aquela festa de república perto do Pappa Tutti (qual era mesmo o nome?).
Achei também inúmeras daquelas listas que costumávamos passar pela sala de aula: uma sobre o Ari, outro sobre o Le Bon, e ainda uma que rodou a turma enquanto estávamos no auditório do Estadão na Semana Estado de Jornalismo, recheada de trocadilhos sobre o Alfredo Belmont e que talvez a maioria não tenha visto (em uma foto que guardo desse dia, quase todo mundo está dormindo naquelas cadeiras confortáveis...).
Enternecida por essas lembranças, separei a agenda. "Lembranças queridas não devem ser jogadas no lixo". O problema das coisas velhas, porém, é o pó. Em alguns minutos, meu nariz e meus olhos estavam em brasa por causa da faxina da mudança. Olhei desconfiada para a agenda novamente. Cheia de pó. Eu sou alérgica, meu filho é muito mais alérgico ainda e eu estava para ter um bebê. Não estava levando nada empoeirado para a casa nova. E lá se foi, dessa vez definitivamente, a agenda. Minhas queridas memórias abandonadas e assassinadas por este meu novo eu, prático, lógico e sensato...
Ironias do destino. Durante todos esses anos, eu me acostumei a rever a agenda com uma certa frequência. Mas justamente naquele dia, não consegui imaginar sequer uma minúscula utilidade para ela. E então, alguns meses depois, surge esse blog. Animada, pensei em escanear todo aquele material e zás, e zás, postar no blog, e zás, e zás (até que o Kiko da minha consciência ordenou que eu me calasse porque a agenda estava no lixo...).
Sorry. De tudo que havia naquela agenda, tem uma coisa que nunca vou esquecer. Uma das listas era sobre os medos que tínhamos. E o Ricardo disse que quando era criança tinha medo do barulho da descarga da privada porque achava que era o Minotauro!!!
Sempre achei isso engraçadíssimo. Mas agora, minha bebê de dois meses dá pulos no berço ou no carrinho, totalmente em pânico, quando alguém aciona a descarga do vaso sanitário. Ela ainda nem sabe o que é o Minotauro... e agora toda vez que isso acontece eu me lembro do Ricardo!